quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma viagem inesquecível!

Uma vitnamita.
Em 2008 fiz uma viagem para Hanói, no Vietnã. Fui à trabalho acompanhando o então presidente Lula. Tive a oportunidade de ficar ali por 10 dias. Foi uma experiência muito marcante, principalmente pelo choque de culturas. Chegando lá, entramos em contato com o Itamaraty que prontamente nos indicou uma profissional para ser nossa tradutora do vietnamita para o português. A língua inglesa é falada apenas nos hotéis e por gerentes ou autoridades. Muito difícil encontrar alguém nas ruas que falasse o inglês. Essa profissional em questão se chama Nguyen Quynh Hoa, ou Olga, como ela mesma se entitulou. Ela é bem nova e estuda a língua portuguesa devido ao grande número de empresários brasileiros que vêm firmando negócios com a Ásia.
Lar abrigo dos veteranos de guerra.
Nesses 10 dias fizemos um documentário sobre os costumes e a vida no Vietnã. Fomos a um lar-abrigo, onde vivem veteranos que lutaram na guerra com os Estados Unidos. Muitos deles perderam pernas, braços ou ficaram loucos. Mesmo assim, os que ficaram sãos dizem que não têm raiva dos EUA e que o importante é reaprender a viver. Nesse lugar vivem também crianças que sofrem as sequelas da toxina "Agente Laranja", pulverizada pelos americanos nas lavouras vietnamitas. Resultado: crianças com metade da cabeça e várias outras aberrações. O diretor desse lar-abrigo me disse que em áreas rurais, na fronteira com a China, mães abortam ao saber que estão grávidas de meninas. E pessoas ricas, sabendo disso, compram o feto para comer, em busca de juventude. Sem contar que lá em Hanói, em áreas mais pobres, de periferia, as pessoas comem cachorro. Fui numa rua com vários açougues. Todos com cachorros pendurados, à mostra, como se fossem nossos açougues de carne suína e bovina, só que sem nenhuma higiene.

Bom, histórias à parte, o que mais me chamou atenção foi outra coisa. Tive a oportunidade de visitar um "pagoda": um templo budista. Muito incenso, muita oferenda, muita reverência, precisamos tirar os sapatos para entrar...e muitos estátuas de budas! Confesso que não sabia que existiam tantos budas. Nesse lugar perguntei à Olga se ela era budista. Ela me respondeu que não tinha religião e que acreditava apenas nos ancestrais. Perguntei se ela, uma pessoa bem antenada, conhecia Jesus, Deus. Ela disse que não. Falei um pouco para Olga sobre a bíblia e guardei essa cena na memória até o fim da viagem. Lá em Hanói tudo é muito barato. 16 mil dongues vietnamitas correspondem à aproximadamente 1 dólar americano. Só para se ter uma idéia, fechei um dia inteiro com um taxista, fui a uma cidade próxima, o motorista me cobrou apenas 1 dólar e ainda me deu troco!!!!! Não aceitei!

Um veterano sendo entrevistado.
Ao fazer o pagamento para a Olga, de toda a temporada, dei uma gorjeta de 20 dólares. Ela disse que não poderia aceitar pois era muito dinheiro. Fiz questão. Além disso entreguei à ela um presente: o único livro que carregava comigo em português: a bíblia. O engraçado é que eu não tinha nada do Brasil para dar como presente. Nem uma moeda, uma cédula, um chaveiro...nada. Só a bíblia que eu ganhei aos 15 anos de idade e já estava cheia de anotações. Era minha bíblia de estimação! Cheguei a pensar em comprar outra bíblia parecida com a que tinha acabado de dar à Olga assim que chegasse no Brasil.

Daí fui para o Timor Leste e para a Indonésia. Depois disso tudo, na volta para o Brasil fizemos uma escala nas ilhas Seychelles, no oceano Índico e em Angola, na África. Foi quando o avião deu pane. A turbina estorou em pleno vôo. Sobrevoamos o aeroporto por 2 horas para queimar combustível e evitar uma possível explosão. Cinco caminhões de bombeiros à espera. Deu tudo certo. Ficamos 5 dias em Angola, sem visto, mas num condomínio de uma construtora brasileira muito agradável. De lá fizemos escala no Gabão e ao chegar no Senegal...nova pane. Os 2 pneus da aeronave rasgaram. Novamente queimamos combustível. Novamente bombeiros nos esperavam. Graças a Deus, mais uma vez deu tudo certo. Seguimos ainda para Portugal. Todo esse caminho, da Indonésia para cá deu quase 2 semanas. E nesse tempo todo nenhum conhecido meu sabia da história da bíblia e nem que eu pretendia comprar uma outra para mim.

Ao chegar no aeroporto de Brasília, meus pais foram me buscar. Nessa espera conheceram um pastor e uma missionária brasileiros que iriam participar de um congresso aqui na cidade. Momento para abraços e apresentações. Nem bem nos conhecemos o pastor me disse: "Aline, Deus me pediu para trazer 2 bíblias nessa viagem. Sei que uma delas é para você". Dissea ele que já era cristã e que ele poderia dar a bíblia a outra pessoa. Mesmo assim ele insistiu. Comecei a chorar muito, pois ninguém sabia que eu tinha dado minha bíblia de estimação de presente para uma vietnamita que não conhecia à Deus. Expliquei a história e todos ficaram muito emocionados.

Anos depois ...sou amiga da Olga no meu facebook. Sei que ela leu várias partes da bíblia, já que é um estímulo para ela aprender e ler a língua portuguesa. Mesmo virtualmente, já dá para ver os "brotos" dos ensinamentos de Cristo.

Essa história é muito marcante para mim, pois me ensinou que podemos falar de Cristo das mais várias formas, nos mais diferentes lugares, mesmo numa missão à trabalho. Me senti um pouco missionária. E muito feliz por isso.
Um grande abraço,
Aline Bastos



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