quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tradução da bíblia e o estudo dos sons das línguas do mundo

Nos quase três anos de caminhada de preparo para o ministério de tradução da bíblia e educação bilíngue, minha esposa e eu temos visitado algumas igrejas, conversado com irmãos de várias denominações e com pessoas de outros segmentos religiosos. Ouvimos muitas afirmações, percebemos pensamentos e sentimentos a respeito da área de tradução da bíblia. Abaixo, exponho certas expressões que descrevem o conhecimento geral sobre tradução da bíblia:
 “Vocês (Alexandre e Walquíria) estão traduzindo qual livro da bíblia para a língua Beafada? (a afirmação surgiu antes de fazer o treinamento da Associação Linguística Missionária – ALEM);

Que bom! Através da informação sobre o ministério de tradução da bíblia, descobri que no mundo existem línguas ágrafas!”
 “O missionário tradutor só estuda, e não trabalha” (Às vezes, o ministério da tradução da bíblia é considerado como um trabalho abstrato, sem valor concreto);
Será que vale a pena investir no preparo de tradutores? Não seria melhor um curso mais prático, com um tempo menor de duração e com um gasto financeiro bem menor?” (A partir do desafio da tradução da bíblia, há pessoas que desejam diminuir o preparo. Muitas vezes, a ideia é enviar logo o missionário para o campo. Já diz o adágio popular: “A pressa é inimiga da perfeição”).
Conversando com o pastor Oséias Beserra, missionário-tradutor do povo Assurini, ele me alertou sobre a importância dos missionários esclarecerem de forma didática o significado do ministério de tradução da bíblia. Uma comunicação mal feita pode resultar em sérios problemas no futuro, pois termina gerando falsas expectativas. Devemos lembrar que contra esse ministério, há Satanás atrapalhando diariamente para que a carta de amor de Deus aos povos (Bíblia) não seja traduzida. Ele pode usar expectativas irreais vindo de uma falha na comunicação para desanimar e colocar sérios problemas num projeto de tradução da bíblia para determinado povo.
Por isso, iremos compartilhar um pouco sobre o trabalho de tradução, fazendo um relato de cada disciplina que estamos fazendo no Curso de Linguística e Missiologia da ALEM em Brasília.
Então, para começar a conhecer a área de tradução, devemos questionar: “o que significa traduzir a bíblia?”. Essa pergunta contém várias respostas. Sugerimos uma primeira afirmação: Traduzir a bíblia significa tornar a Palavra de Deus inteligível aos sons de outras línguas. O processo de tradução permite que a bíblia seja ouvida nitidamente por povos sem um versículo na sua língua materna.
Para possibilitar uma audição nítida da bíblia, o missionário precisa de um treinamento na área de fonética que é a área da linguística responsável pelo estudo dos sons das línguas existentes no mundo.
Através da fonética, conhecemos vários sons, aprendemos a identificá-los e a descrever como eles são produzidos. Um instrumento de ajuda para o missionário é o Alfabeto Internacional de Fonética:

Essa tabela contém os sons que ocorrem em qualquer língua do mundo. Ela é uma tabela prática por permitir desvendar quais são os sons de uma língua. Um exemplo do uso da tabela vem do Papa João Paulo II. De acordo com a Profa. Thaïs Cristófaro Silva, o Papa sempre proferia as suas homilias na língua materna do povo que visitava, porque conseguia ler textos escritos em transcrição fonética, isto é, com base nos sons da tabela. Podemos comparar a tabela como uma bússola para o tradutor se orientar nos sons de várias línguas do mundo.
Também somos treinados a perceber a produção dos sons no aparelho fonador que é composto da garganta, da língua, da boca, da campainha da boca e do nariz. Abaixo, há o retrato do aparelho fonador, chamado carinhosamente de “caveirinha”:

Durante o curso de fonética, ouvimos e transcrevemos foneticamente os sons de várias línguas do mundo: ewe, lao, espanhol, inglês, culina, kikuyu, Gungwingu, yoruba, gã, chuana, sui, etc.
Essa rápida noção sobre a fonética mostra que uma das áreas da tradução da bíblia está em pesquisar os sons da língua do povo em que a bíblia será traduzida. É importante contemplar a criatividade de Deus, pois as línguas possuem diversos sons, sendo que cada um possui sua beleza. Por favor, não se assuste com os nomes deles: oclusivos, fricativos, vibrantes, aproximantes, africados, nasais, clicks, ejetivas, implosivas, vogais orais, vogais nasalizadas. Todo som é pronunciado de uma forma diferente e especial, envolvendo detalhes da articulação do aparelho fonador. Assim como Deus ama cada ser humano individualmente, Ele fez os sons de forma diferente um do outro. Nenhum deles é igual ao outro. Traduzir a bíblia é encantar-se pela maravilha da criação de Deus manifesta na articulação dos sons: “O céu proclama a glória de Deus, o firmamento anuncia a obra da sua criação” (Salmos 19:1).
A beleza da criação dos sons nos alerta sobre a importância de não apreendermos os sons somente no intelecto, mas registrá-los também no coração. Temos o privilégio de traduzir a bíblia por meio de um instrumento extremamente elaborado.
Obrigado Senhor por ter tido o privilégio de conhecer os sons da tua criação: oclusivos, vibrantes, fricativos, nasais, aproximantes, africados, ejetivos, implosivos, vogais orais, vogais nasalizadas. Os tipos de fonação: sonoro, surdo, labializado, laringalizado, sussurrado, murmurado. Como foi bonito perceber que tu nos criaste para produzir sons belos. Agora pedimos que o teu Espírito registre em nossos corações esses sons para que possamos tornar acessível a tua Palavra a povos que ainda não a ouviram nitidamente. Aquece a nossa vida com o teu Espírito para trabalharmos com fé, esperança, paciência e perseverança na identificação dos sons das línguas desses povos. Em teu nome Jesus, amém!

Mário Alexandre Lopes - Projeto Beafada


Nenhum comentário: