terça-feira, 29 de março de 2011

Por um novo Haiti - Por Walquíria G. Béda Lopes

Ganhei um presente e tanto de Deus no mês de outubro em 2010. Pude participar de uma caravana de ajuda humanitária e evangelística ao Haiti. Fomos em 56 pessoas, homens, mulheres, jovens, maduros, profissionais, estudantes, pastores, missionários. Todos ao serviço de nosso Deus. E como Ele foi maravilhoso!!! Deu-nos como sempre muito mais do que imaginávamos e esperávamos. Guardou-nos o tempo todo, nós e nossos familiares. Trabalhamos em diversas localidades do nordeste do país e da capital, Porto Príncipe. Fiquei com a equipe de tradução e servimos ao pessoal de artes e de crianças, equipe dos médicos e equipe de esportes. Pudemos ver Sua boa mão atuando na cura de pessoas que já não andavam há quase um ano; mães debilitadas; crianças sem esperança; homens afastados da Sua Palavra. Deus fez maravilhas!

A capital ainda está muito devastada por causa do terremoto de janeiro desse ano. Há mais de um milhão de pessoas desabrigadas, sem água potável e renda própria para sua sobrevivência. Igrejas estão ainda se reerguendo e muitas outras nasceram até mesmo dentro dos campos de desabrigados. Precisamos orar para que os cristãos haitianos se aprofundem no estudo da Palavra, no evangelismo de outros e no discipulado sério e com compromisso. Eles precisam de água viva! Oremos por isso!

Um grupo seguiu direto para a capital, Porto Príncipe, de avião. Outro seguiu para o nordeste do Haiti de ônibus. Eu fiz parte da equipe do nordeste e ficamos lá por 6 dias. Fiquei como tradutora do grupo que trabalhou com as crianças e artes. Deus do Céu! Eu com meu francês terrible e tradutora! Só Ele mesmo para fazer essas coisas. Aliás, era o que mais víamos. Onde nossa capacidade se acabava, Ele entrava com toda Sua majestade e Glória e aí, sim, as coisas funcionavam. Nunca trabalhei assim com a língua francesa e, para complicar, lá eles falam muito mais o crioulo do que o francês que aprendemos por aqui. Então eu passava a mensagem em francês para alguém da igreja local e essa pessoa falava para todos em crioulo. Uma loucura! Teve um dia em que fiquei com a equipe médica e aí precisei reunir toda a força para não me abalar. Casos sérios que não poderiam receber grande tratamento ou remédios, o que podíamos dar era a oração e esperar a ação de Deus. Casos agravados pela pouca ou quase nenhuma alimentação. Pessoas sem andar, crianças com erisipela, idosos quase cegos e desnutridos. E precisávamos atender essas pessoas com os poucos medicamentos que tínhamos e todo o amor que Deus nos dava por elas. Por várias vezes eu orava para Deus me dar forças porque precisava continuar traduzindo as consultas e a medicação, mas me sentia impotente e triste diante do que meus olhos viam. 

E as crianças? Centenas! Todas muito bem limpas e arrumadas para ir a igreja. Lindas com suas fitas e presilhas nos cabelos. Reuníamos com elas no templo e cantávamos, contávamos histórias, ouvíamos suas canções também e orávamos por elas e com elas. Percebi que muitas estavam curiosas com nossa presença ali. Doamos tudo o que podíamos a elas, mas nada que pudesse fazer os pais mortos retornarem às suas casas, ou encherem suas barriguinhas de alimento. Como Pedro, não podia dar ouro nem prata, mas podíamos oferecer o amor de Deus e a alegria de estarmos vivos e pertencermos a Jesus. Elas parecem que entendiam e sorriam depois de um abraço ou um simples toque de mão. Estar com elas me enchia novamente de esperança e de alegria. Revigorava minha alma.

E eles amam mesmo o futebol brasileiro. É claro que não escapei do campo! No primeiro dia fui escalada para traduzir enquanto nossa fisioterapeuta-número-um-em-embaixadinha fazia atividades com eles no campo de futebol. Todos participaram! Várias crianças, homens e mulheres. Foi uma festa para mais de 250 pessoas! Essa é mais uma prova de que Deus é quem nos capacita e dá o necessário para realizar a Sua obra.

Depois de uma semana no nordeste, voamos para a capital e reencontramos todo o grupo. Foi uma festa! Emocionaram-nos com muito carinho e amor. Lá a situação era diferente. No nordeste não víamos tantos escombros e tendas. Na capital há ainda muitos. Milhares de pessoas vivendo nas tendas, sem banheiros e sem estrutura para uma família. Não há coleta de lixo suficiente, nem água potável para todos. Enquanto a vida continua, é possível vermos prédios inteiros no chão, casas caídas, escombros para todos os lados. A reconstrução não é possível em todos os lugares e quando é, faz-se de maneira vagarosa. É chocante! É triste e incomoda muito ver milhares de pessoas vivendo e convivendo com isso.

Conheci um pastor que sobreviveu ao terremoto. No dia ele não estava em sua casa, quando aconteceu o terremoto ele estava distante e demorou umas 5 horas de caminhada para chegar até lá. Chegou e viu quase tudo no chão. Chamou pela mulher e seus dois filhos e o vizinho disse que eles estavam embaixo da terra. O pastor disse que sentou no chão, baixou a cabeça e chorou, chorou e orou a Deus dizendo que ele não saberia continuar assim, não saberia o que fazer sem sua mulher e seus filhos. E disse que Deus sabia disso porque Deus o conhecia. Coragem de abrir seu coração ao Senhor! Poucos instantes depois ele ouviu os gritos de sua mulher dizendo que estavam bem. Ele reuniu toda a sua força e começou a tirar os entulhos com as mãos. Cavou com suas mãos até tirar lá debaixo seus dois filhos e sua mulher que saiu nua, pois as pedras rasgaram a roupa dela. Que força e coragem! O dia amanheceu e a primeira coisa que ele viu em cima dos escombros de sua casa foi a Bíblia dele. Sinal de que Deus estava lá! E que Deus havia livrado a sua família! 

Conheci pessoas especiais nessa missão. Revi pessoas amigas e queridas. Deus foi muito bom e nos deu o melhor possível para cada ocasião. Não temos do que reclamar ou nos queixar, Ele é maravilhoso!

Voltei para casa não com o sentimento de missão cumprida. Nossa missão durará enquanto tivermos vida. Voltei com o sentimento de que precisamos fazer mais. O que fazemos ainda é pouco! Somos muitos e podemos nos empenhar mais!! Precisamos nos esforçar mais enquanto ainda há tempo. 

Quero agradecer aos mais de 500 intercessores que oraram por essa viagem. Graças a Deus por suas vidas e disposição em se colocar na brecha por nós e pelo Haiti. Também agradeço a oferta recebida da Igreja Memorial Batista que foi destinada para o pagamento integral das despesas da viagem. Houve ainda dois irmãos que cooperam com ofertas que foram utilizadas para compra de materiais pessoais para a viagem (medicamentos e higiene) e louvo a Deus por suas vidas.

Vocês fizeram parte de mais uma missão! Agradeço a Deus por suas vidas e oro para que Ele lhes dê o necessário, sempre.

A Deus toda a honra, glória e louvor, agora e para todo o sempre! Amém!

Com amor,

Walquíria G. Béda Lopes

Clique e veja o Vídeo da Viagem Missionária - Por um novo Haiti.

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